Newsletter
Subscreva a nossa newsletter

Newsletter

FacebookTwitter
Jornal do Concelho de Oleiros | Francisco Carrega | Periodicidade: Trimestral | Abril 2025 nº94 Ano XXIV
Crónica
“Antes cabras que aviões”

226230_1946104822145_1528283821_32057036_6382741_n.JPGHá dias li um artigo no jornal Público, o qual se apresentava com o intrigante título "Antes cabras que aviões". Na prática, o texto da autoria de Henrique Pereira dos Santos referia que uma das grandes ameaças da floresta, os incêndios, poderia ser "inteligentemente gerida" com o recurso à caprinicultura e assim "não precisar dos melhores meios possíveis, os aviões, para a tentar combater".

No artigo pode ler-se que 500 mil euros dariam para financiar, a 5 anos: a gestão de 2.500 a 5.000 hectares, um rebanho com 200 cabras e o apoio técnico necessário ao uso do fogo (quer na prevenção, quer no combate). Por outro lado, o dinheiro gasto na aquisição de um Canadair (27 milhões de euros) poderia ser utilizado no financiamento de 50 projetos que se aplicassem a uma área geograficamente definida e que usassem, de forma integrada, fogo, cabras e sapadores para gerir o mato. Com este montante poderíamos falar de um plano de gestão e combate em cerca de 100 a 200 mil hectares.

O artigo tem ainda implícita uma questão fundamental: a da sustentabilidade futura. Esta é garantida pelo facto de as cabras se reproduzirem e de criarem oportunidades de negócio incríveis, já para não falar da criação de emprego, da presença de gente no território, do equilíbrio territorial ou da transferência de recursos entre o litoral e o interior.

Como vantagens da caprinicultura, pode ler-se ainda que as cabras são de fabrico nacional, constituem recursos renováveis, estrumam o solo e aumentam a sua produtividade, criam cabritos e no final da sua vida útil, podem ser convertidas em chanfanas. Se a tudo isto somarmos o seu contributo na prevenção dos incêndios florestais, podemos ainda repensar a promoção da imagem desta fileira, traduzida num acréscimo de valor que não se deve ignorar.

Numa época como esta, em que se vive o Festival Gastronómico do Cabrito Estonado e do Maranho no concelho de Oleiros, duas especialidades que derivam diretamente da exploração caprina, esta parece-me uma altura oportuna para refletir em torno do papel da caprinicultura na prevenção dos incêndios florestais, garantida pela vigilância e limpeza do espaço florestal, temas muito pertinentes hoje em dia.

Como se sabe, no concelho de Oleiros esta é uma velha atividade que se tem mostrado capaz de gerar riqueza. Em geral, a zona do Pinhal está vocacionada para a caprinicultura, apresentando fortes tradições neste setor. A exploração caprina, com os seus subprodutos decorrentes do aproveitamento da carne e do leite (para produção de queijo), pode representar uma perspetiva interessante de desenvolvimento integrado, afetando de forma eficiente os recursos disponíveis.

A atestar este facto, a espécie pecuária mais representativa da região e com maior capacidade de adaptação é a cabra, sendo esta a única que em regime extensivo (pastoreio ao ar livre) ou semi-intensivo (estabulação em curral conjugado com pastoreio ao ar livre) pode valorizar os recursos forrageiros e adaptar-se às condições existentes.

Por este motivo, o efetivo caprino da zona do Pinhal representa 48% do efetivo caprino existente em toda a Beira Interior, sendo a raça predominante a raça autóctone Charnequeira. Para termos uma ideia, em 1999 o setor caprino no concelho de Oleiros tinha um peso na sub-região do Pinhal Interior Sul de 19,6%.

Num território essencialmente rural, como o nosso, faz todo o sentido pensar em cabras em vez de aviões, conferindo novamente peso económico a este setor e restituindo aos pastores uma das suas funções de sempre enquanto "guardiães da floresta".

Inês Martins
Engenheira Agrónoma