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Jornal do Concelho de Oleiros | Francisco Carrega | Periodicidade: Trimestral | Abril 2025 nº94 Ano XXIV
Crónicas da terra
Muito mais que uma rolha

claudia.JPGEntre maio e agosto. É neste período de tempo anual que decorre uma das mais promissoras atividades do setor florestal…o descortiçamento dos sobreiros! Falando-se sobre cortiça, é quase obrigatório mencionar um dos produtos a ela associados, a rolha, quase tão famosa quanto o líquido que protege, sendo que a indústria vinícola absorve cerca de 66% de tudo o que é produzido.

Apesar das dificuldades inerentes ao setor, Portugal continua a ser líder mundial na exportação deste produto, estimando-se que, em 2015, os valores obtidos atinjam os mil milhões de euros. Não é à toa que a cortiça se costuma apelidar de "Petróleo da nossa Pátria" ou "Jóia da Coroa dos nossos Recursos Naturais". A verdade é que a cortiça é, sem dúvida, um dos materiais mais ecológicos do planeta, com propriedades únicas devido à sua estrutura celular, impossível de replicar tecnologicamente, até hoje.

O interior da cortiça é composto por uma colmeia de pequenas células de suberina, preenchidas com uma mistura gasosa muito semelhante à do ar. Cada centímetro cúbico de cortiça contém, em média, 40 milhões de células, o que significa que numa única rolha de cortiça existem cerca de 800 milhões desta unidade estrutural da vida. Esta matéria-prima perfeita, 100% natural de origem vegetal, é leve, tem uma grande elasticidade e resiliência voltando à sua forma original depois de ser submetida a uma pressão, é impermeável tanto a líquidos como a gases, e por isso não apodrece, apresenta uma baixa condutividade de calor, som e vibração, e é muito resistente ao fogo, não fazendo chama nem expelindo gases tóxicos durante a combustão.

Não admira, portanto, que se canalizem esforços para a investigação, desenvolvimento e inovação, e que se espere muito mais da cortiça para além da rolha. O uso deste material para mobiliário, para a nossa região, não é novidade, se pensarmos nos tradicionais tropeços de uso comum nas casas de campo, mas o olho visionário de designers de renome internacional, que viram na cortiça beleza e conforto, estão a catapultar não só este produto como também o nome de Portugal.

Nenhuma área fica indiferente à cortiça…mobiliário, vestuário, joalharia, cosmética, arquitetura, construção, indústria, desporto, transportes, e até…indústria aeroespacial. A NASA não poupa nos elogios a este material que é tão nosso, e que agora é componente em escudos térmicos e placas de revestimento das naves espaciais. Totalmente reciclável, não podemos perder a oportunidade de contribuir para este processo…é que cada sobreiro, com a sua longevidade de 200 anos, permite que lhe seja extraído a cortiça, cerca de 17 vezes, mas apenas a partir dos seus 25 anos pode ser descortiçado pela primeira vez. A sua casca autorregenera-se naturalmente, havendo renovação constante da sua produção. É um processo moroso, sem dúvida, mas esta árvore sobrevive a diversas gerações, constituindo um hino à sustentabilidade e uma autêntica bandeira da ecologia…bandeira essa que podemos afirmar ter subjacente o verde e o vermelho da bandeira nacional…

Cláudia Mendes
Bióloga