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Jornal do Concelho de Oleiros | Francisco Carrega | Periodicidade: Trimestral | Março 2024 nº90 Ano XXII
Opinião
O mel de medronheiro

226230_1946104822145_1528283821_32057036_6382741_n.JPGTal como nos vinhos existem os monocásticos, também nos méis se considera a categoria dos monoflorais, uma classificação bastante valorizada e obtida quando o mel é produzido a partir do néctar de uma única espécie floral.

Como se sabe, o sabor, o aroma e a cor deste produto natural variam segundo a origem botânica do néctar recolhido pelas abelhas. Os méis escuros, por exemplo, costumam ser mais ricos em minerais e possuem aroma e sabor mais acentuados. Os claros podem não apresentar tantos minerais, tendo um sabor mais suave.

Dentro dos méis monoflorais, existe um que se produz bastante bem na região: o mel de medronheiro,l derivado de uma espécie pertencente à família das Ericácias (da qual fazem parte as urzes), a qual está na origem de uma significativa parte da produção de mel a nível nacional.

Em termos organoléticos, o mel de medronheiro tende a apresentar uma tonalidade verde acinzentada, mais escura do que os de urze, possuindo um apreciado e intenso odor caraterístico de outono (a lembrar húmus). Em termos de paladar, este exibe um pronunciado e persistente sabor amargo que domina sobre o típico doce dos méis.

Já no que se refere às suas características físico-químicas, estudos revelam que para além de uma acidez elevada, o teor em humidade tende a ser alto, frequentemente acima dos 19%, já que o néctar é recolhido pelas abelhas numa época em que o fotoperíodo e a temperatura são menores, o que atrasa a maturação do mel.

mel monofloral cópia.jpgO medronheiro é uma planta que disponibiliza muito néctar mas pouco pólen. Assim, é aceitável considerar-se que o mel monofloral que se obtém dos cachos pendentes de pequenas flores desta espécie possua um teor de pólen perto dos 8% (o que contrasta com outros méis monoflorais, como o mel de castanheiro que verifica um teor de pólen na ordem dos 90%).

O mel de medronheiro possui ainda um alto teor antioxidante, bastante apreciado nos dias de hoje, a exemplo de um outro mel monofloral, o mel de alfarrobeira. É indicado para combater constipações, problemas respiratórios e de fígado, assim como para cicatrização de feridas ou como tonificante muscular, devido à sua riqueza em determinados minerais.

Uma outra vertente a ter em consideração é a polinização do medronheiro feita pelas abelhas (Apis mellifera), a qual pode ter efeitos muito benéficos no tamanho, quantidade e qualidade dos frutos. Desta forma, pensar numa estratégia concertada entre a fileira do mel e do medronho, apresenta-se como um oportunidade promissora e vantajosa para ambas as partes.

A valorização deste produto através da sua obtenção em Modo de Produção Biológico será outro aspeto a ter em conta, uma vez que o medronheiro é uma espécie muito fácil de produzir biologicamente, dado que não apresenta relevantes problemas fitossanitários.

Concluindo, o incremento da produção de mel de medronheiro no território pode revelar-se bastante interessante não só pelos já referidos benefícios associados à polinização do medronheiro pelas abelhas, ou pela sua facilidade de obtenção e valorização através de um Modo de Produção Biológico, mas acima de tudo, devido à sua característica diferenciadora: o sabor amargo. Este é um mel cada vez mais apreciado como produto gourmet, nomeadamente no mercado internacional. Com aplicações culinárias inovadoras, alia a sua acidez a um certo travo adstringente, pelo que se combina de forma sublime com alimentos ricos em gordura e começa a aparecer com frequência a incorporar requintados molhos.

Inês Martins
Engenheira Agrónoma