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Jornal do Concelho de Oleiros | Francisco Carrega | Periodicidade: Trimestral | Março 2024 nº90 Ano XXII
João Bártolo fez o “render da guarda”
O homem que colocou o vento a dar energia em Oleiros

joao-bartolo.jpgNos últimos 21 anos, João Bártolo, com raízes no concelho de Oleiros, assumiu as funções de presidente do Conselho de Administração da Generg. Este ano deixou o cargo. Diz que aos 78 anos chegou o momento do "render da guarda.
Natural de Proença-a-Nova, onde nasceu em outubro de 1938, João Bártolo foi um dos um grandes impulsionadores da implementação de energias renováveis no país. No concelho de Oleiros deve-se-lhe o maior investimento de sempre nas energias eólicas, com a construção do Parque Eólico do Pinhal Interior Sul. Uma aposta que mudou significativamente o modo de como a população olhava para as energias limpas, com claras vantagens para o ambiente, para os proprietários dos terrenos e para as autarquias.
"Sinto-me muito feliz por este percurso na Generg. Foram anos exaltantes em que fizemos muitas coisas boas. As energias renováveis deram um salto muito grande. A Generg, que na altura era uma empresa pequenina, ganhou um protagonismo no setor", recordou ao Oleiros Magazine.
Ao nosso jornal, numa entrevista realizada há já alguns anos, lembrou a importância de ser beirão, na hora da escolha dos locais para investir na energia eólica. Isso permitiu que Oleiros e a região fossem vistos como um território estratégico para a produção de energia eólica: "o bom conhecimento dum mercado, como dum espaço físico, duma região, duma população, são, em todas as atividades económicas, uma decisiva vantagem. Sendo beirão conhecia muito bem a região e as suas gentes e autarcas. Um projeto como aquele que vimos conduzindo é bem mais que um projeto empresarial, é um projeto com ambições de promover o desenvolvimento a uma escala regional. Ora isto só se consegue se às competências empresariais juntarmos a vontade dos autarcas e o bom acolhimento das populações. E foi tudo isto que, no caso do nosso grande projeto para a Beira Baixa, pensámos e conseguimos em conjunto".
Durante este percurso de 21 anos em que esteve à frente da Generg, João Bártolo manteve com a região que o viu nascer uma relação próxima e solidária. Não foi só o concelho de Oleiros que beneficiou desta estratégia. Também o distrito de Castelo Branco passou a ser referência na produção de energia limpa. A criação dos parques eólicos no distrito são um bom exemplo, os quais abriram novas oportunidades às populações e ao território. Hoje o distrito de Castelo Branco é, dentro do portfolio da Generg, o que produz mais energia eólica com os parques do Pinhal Interior (144 MW) e da Gardunha (114MW).
João Bártolo recordou que a Generg "apoiou o desenvolvimento regional, cumprindo a sua carta de missão. As populações do interior foram muito beneficiadas com esta nossa postura. Foi a partir do investimento da Generg que os parques eólicos começaram a surgir nessas regiões, as quais não tinham estruturas, como linhas de alta tensão. Seria mais fácil no litoral, onde não se teria que investir nesse tipo de linhas".
O ex-CEO da Generg recorda que na época, no interior do país, "não havia indústria porque não havia energia e não ia para lá a energia porque não havia indústria". Significa que havia um ciclo vicioso. "Depois dos nossos investimentos, a Beira Baixa converteu-se num exportador líquido de energia limpa, entre o que ia buscar à EDP e o que lhe entregava. Cerca de 50 por cento da energia aqui produzida é exportada para o país", explicou.
Estes 21 anos permitiram, diz João Bártolo, "que fosse aproveitado o saber existente no sistema tecnológico em Portugal. As universidades e politécnicos tinham um conjunto de pessoas muito habilitadas neste setor, que estavam à espera de um ator empresarial que colocasse em prática esse saber".
Hoje, diz que o setor das energias renováveis transformou-se numa grande industria nacional. "Quando começámos a trabalhar o investimento representava apenas 10 por cento de valor acrescentado no país, hoje é de 90 por cento. Isso foi possível porque se criou um cluster industrial que depois da Autoeuropa foi o mais importante que se criou nas últimas décadas em Portugal, com cerca de cinco mil postos de trabalho ligados à atividade".
Sobre a Generg, João Bártolo destaca o facto de "estar internacionalizada. Temos parques em Espanha, França, Itália ou Polónia. De uma pequena empresa teve um trajeto que me deu grande satisfação com uma equipa muito boa que existe lá na casa".

 

CARA DA NOTÍCIA
João Bártolo,
solidário com
o concelho

João Bártolo ficou associado ao desenvolvimento da energia eólica no nosso país. Na região, em particular, em Oleiros, permitiu a realização de investimentos que mudaram o panorama regional. Esta perspetiva de gestor perspicaz foi alargada à perspetiva de homem solidário. A Oleiros, da sua biblioteca pessoal, ofereceu à Biblioteca Municipal milhares de títulos.  Assegura ter sido movido, "pela esperança de que algo pudesse acrescentar - por modesto que fosse - ao alimento cultural das gentes da região onde mergulham as minhas raízes". E acrescentou: "sou incapaz de deitar um livro para o lixo e de cortar uma árvore. Deste modo foi dado um sentido útil a uma parte da minha biblioteca de onde, de vez em quando, tirava um livro para ler".
Com duas licenciaturas em Engenharia de Minas e em Química Industrial, ambas pelo Instituto Superior Técnico, João Bártolo desempenhou funções em diferentes entidades. Foi administrador da IPE - Águas de Portugal (1994-1996), presidente da EPAL - Empresa Portuguesa das Águas Livres, SA (1994-1996), presidente da FUNDIÇÃO DE OEIRAS, SA (1996-1999), administrador da SOMAGUE AMBIENTE (1997-1999), e do IPE- Estudos e Projectos Internacionais, entre muitos outros cargos.
Ao nível académico fez, entre outras, uma pós-graduação na Business School (S.E.P.) - STANFORD UNIVERSITY - USA (1986), e cursos de Organização de Trabalho INII - OIT (1959); e de Especialização em Engenharia Sanitária - UNIVERSIDADE NOVA (1976). também foi docente no Instituto Superior Técnico. Mas foi na gestão que se destacou. "Desde muito cedo me interessei pela organização empresarial, sociologia, economia, gestão, disciplinas aliás essenciais no mundo empresarial em que a engenharia se exerce. Penso que essa preparação acabou por determinar e marcar o meu trajeto profissional nas organizações por que passei", chegou a referir.