Crónica
Aplausos para a boa vontade

No final deste ano os olhares de
todo o Mundo estiveram postos na capital francesa, por diversas
razões. Uma delas foi a da realização da conferência das Nações
Unidas sobre o clima (COP21), na qual estiveram envolvidos 195
países, desenvolvidos e em desenvolvimento. Em todos os meios de
comunicação televisivos pudemos assistir a um dos mais longos e
unânimes aplausos dos últimos tempos, após o estabelecimento do
primeiro acordo universal de luta contra as alterações climáticas e
o aquecimento global. Com ele, foi reconhecido que é urgente
limitar a subida da temperatura do planeta a 1,5ºC em relação à era
pré-industrial, contrariando a previsão de subida de 3ºC até 2030.
Para dar cumprimento a este objetivo tão específico é
imprescindível que a utilização de combustíveis fósseis pertença ao
passado e que, de futuro, 100% da energia seja limpa, renovável, e
que todos os países, sem exceção, enveredem por este caminho.
Certos de que os países menos desenvolvidos terão mais
dificuldades, estes terão que ser apoiados financeiramente pelos
países mais ricos e desenvolvidos.
Em Portugal, e em concreto para a
atividade agrícola e florestal, os cenários de evolução climática
até ao final do século XXI apontam para condições progressivamente
mais desfavoráveis, decorrentes da redução da precipitação e
aumento da temperatura, do agravamento da frequência e intensidade
dos eventos climáticos extremos e do aumento da suscetibilidade à
desertificação.
A disponibilidade de água e a
capacidade de rega, a fertilidade do solo e a prevenção da erosão,
a gestão de risco face aos eventos extremos e à maior variabilidade
climática, o acréscimo de condições favoráveis a organismos
prejudiciais às culturas e às plantas e a alteração dos sistemas
fitossanitário e de sanidade animal, bem como a disponibilidade de
património genético animal e vegetal adaptado às novas condições
climáticas constituem os principais fatores críticos para a
adaptação da agricultura às alterações climáticas
expectáveis.
Quanto ao setor florestal, o
aumento do risco meteorológico de incêndio, a diminuição da
produtividade potencial e da capacidade de sequestro de carbono bem
como o aumento das condições favoráveis a agentes bióticos nocivos,
constituem os aspetos mais críticos. Em relação a estes últimos
(pragas, doenças e espécies invasoras) as alterações climáticas
poderão promover novas oportunidades para o seu estabelecimento,
não só por favorecerem o desenvolvimento das suas populações como
por criarem, muitas vezes, pressões ambientais que tornam as
árvores e ecossistemas mais vulneráveis a determinados organismos.
É o caso dos efeitos favoráveis que o aumento da temperatura e a
diminuição da precipitação possam vir a ter sobre a atividade do
inseto vetor do nemátodo da madeira do pinheiro, o longicórneo do
pinheiro (Monochamus galloprovinciallis), ou ainda sobre o
desenvolvimento das populações de espécies bióticas nocivas com
mais do que uma geração anual, designadamente de
escolitídeos.
Assim, por tudo isto e muito
mais, Portugal com cerca de 70% do seu território ocupado por área
agrícola e florestal não pode descurar o seu papel na política
climática e energética, havendo necessidade de rever e aumentar a
sua ambição para que, já a curto prazo, se atinjam os objetivos
propostos na cidade que, no final deste ano lutou contra dois tipos
de terrorismo: o religioso e o ambiental.
Estando este ano a terminar e uma
vez que o início de um novo ano pressupõe sempre desejos e
ambições, que a vontade de mudança global aplaudida em Paris se
transforme numa realidade concretizada, o mais rápido
possível!