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Jornal do Concelho de Oleiros | Francisco Carrega | Periodicidade: Trimestral | Março 2024 nº90 Ano XXII
Editorial

91.jpgNo términus de mais um período letivo, tempo agora para olhar para o caminho percorrido, para projetar o percurso que ainda falta calcorrear e até para refletir sobre a própria essência do(s) Tempo(s). Esta é, de facto, uma das épocas que, para os católicos, mais simbolismo e exigência pessoal encerra. É o chamado tempo da Quaresma. É o tempo da expectativa, da purificação, do regresso e da consciência da fidelidade às promessas. E esta consciência também nos mostra o quão difíceis são os tempos que atravessamos… São "tempos de pedra", feitos de obstáculos inusitados, urdidos com curvas e contracurvas, mas também, e felizmente, aquecidos com alguns raios de sol, que teimam em brilhar por entre os pingos carregados da chuva fria e que acabam por aquecer a nossa sensível e efémera existência humana. Pedras? Sempre as houve nos caminhos… Sempre as haverá… Fernando Pessoa dizia, num dos seus múltiplos e emblemáticos poemas, "Pedras no caminho? Guardo todas, um dia vou construir um castelo…". O segredo, e reiterando uma vez mais o lema do Agrupamento de Escolas Padre António de Andrade, está em não desistir! Está em persistir na demanda da nossa vida, em sermos homens e mulheres melhores, em préstimo ao Outro. E o Outro não tem que ter necessariamente as mesmas crenças, cor, ideologias, vontades e expectativas que nós.

O poeta António Ramos Rosa, um dos parcos portugueses agraciados com a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique, escreveu na sua sábia forma de expressar os pensamentos e os sentimentos, "…caminho, caminho, porque há um intervalo entre tudo e eu, e nesse intervalo caminho e descubro o meu caminho". Aliás, este é um excerto do mote que deu ânimo à Reflexão Quaresmal da Comissão Nacional Justiça e Paz 2018 que, em íntima harmonia com as palavras do Papa Francisco, nos deixa alertas de vivências essenciais. Simples questões, aparentemente apenas retóricas, mas, no âmago, interpelativas com vista à mudança, que agora partilho: Como deixarmos de ser "pedras" e de estarmos sentados num "bloco de gelo", tantas vezes ainda mais gélido do que o pensado possível? Acreditamos piamente no poder de nos servirmos a nós mesmos, esquecendo o Outro? Acalentamos conscientemente um mundo do "faz de conta" ou "do que parece bem"? Vivemos apenas para nós e para os nossos ou vivemos também e essencialmente para o nosso Próximo, que tantas vezes é aquele que até menos apreciamos? Estaremos a esquecer-nos de que a iniquidade, ao resfriar o Bem, traz consequências nefastas abismais? Será que, e parafraseando as palavras do Sumo Pontífice, "Perdemos a capacidade de nos indignar?".

E porque efetivamente o Tempo é o que dele fizermos, reflitamos sobre o caminho, mas, sobretudo, continuemos a caminhar, ajamos, metamorfoseemo-nos, para que o nosso interior seja, como dizia Sophia de Mello Breyner, "uma atenção virada para fora", para que "tudo quanto vejo" me acrescente…

Votos de boa Páscoa,

 

António Cavaco
Diretor