Secretário de Estado das Florestas, Francisco Gomes da Silva
A floresta tem que gerar riqueza
O
secretário de Estado das Florestas, Francisco Gomes da Silva,
considera que as autarquias devem ter um papel importante na defesa
e promoção da floresta. No passado dia 4 de abril o governante
esteve em Oleiros. No final da sessão solene falou à imprensa. Em
resposta às questões colocadas pelo Oleiros Magazine, o secretário
Estado abordou a importância da floresta gerar riqueza para os seus
proprietários.
Que papel poderão
desempenhar as autarquias no setor florestal?
Numa responsabilidade e vocação
natural que têm ao nível da defesa de uma floresta contra
incêndios, uma vez que são a autoridade municipal de Proteção
Civil, e são elas que estão perto das populações e que as conhecem.
Há um conjunto de iniciativas que têm que ser feitas no território,
nomeadamente naquilo que chamamos de redes estruturais de defesa de
floresta contra incêndio. Estas redes ganham muito ao serem
executadas através das autarquias. A própria Lei já prevê isso.
Contudo há um conjunto de obstáculos de outro tipo, como
financeiros, para que isto se concretize. Aquilo que transmiti ao
presidente da Câmara de Oleiros, foi que o município e o ministério
devem conversar - pois o ministério é responsável pela prevenção
estrutural, pela rede de caminhos, rede primária e secundária, ou
pontos de água - para que a colaboração que já existe ao nível do
planeamento, também aconteça ao nível da execução.
Nesse sentido poderá haver
o recurso a fundos comunitários?
Vão estar disponíveis novos fundos,
no quadro comunitário 2014-2020, pelo que é importante que
consigamos de uma forma inteligente e programada utilizar todos
esses recursos em prol da floresta. Não só na defesa da floresta
contra incêndios, mas também de índole sanitário - como a questão
do nemátodo -, onde as autarquias podem ser um bom veículo para que
os serviços florestais possam chegar aos povoamentos afetados. As
autarquias são por eleição o elo de ligação entre o Poder Central e
as pessoas.
Uma das questões que se
coloca sempre que se fala em floresta é a sua limpeza. É um tema
complicado de resolver tendo em conta a sua
tipicidade?
É um tema complicado. A nossa
floresta, e esta região do pinhal é um exemplo, é privada. Tem
dono. O Estado não pode entrar por casa alheia a fazer aquilo que o
privado não faz. Mas pode e deve - e é verdade que nem tudo tem
sido feito ao longo do tempo -, intervir no território em situações
de risco, através da implementação de elementos de defesa
estrutural contra incêndios. E aí, o Estado Português pode fazer
aquilo que o proprietário florestal não faz, desde que essa
intervenção esteja prevista no Decreto Lei da Defesa da Floresta
Contra Incêndios.
Mas tudo isto não vai ao encontro
daquilo que as pessoas pensam quando se fala em limpeza da
floresta. Pois as pessoas, quando pensam numa floresta limpa,
imaginam-na com o chão limpo, sem matos. Os matos fazem parte dela,
mas não com dois metros de altura. De igual modo as florestas
densas não devem existir. Muitas vezes há desbastes que deveriam
ter sido feitos e não o foram. Estas coisas fazem parte da gestão
da floresta, a qual pertence aos proprietários. O Estado não tem
habilitação legal para se substituir ao proprietário nessa matéria
de gestão florestal.
Se se garantirem mais
valias para os proprietários, a situação poderá
melhorar…
Temos que encontrar formas de
valorizar os produtos da floresta. Esse é o busílis da questão. À
medida que consigamos que a floresta gere maior riqueza para os
seus proprietários, eles irão tomar conta da sua floresta. Se os
produtos forem valorizados, ganha-se dinheiro com isso, e todos nós
sabemos que o dinheiro faz falta. Não resolve tudo, mas é
importante.
Ainda no que respeita à
floresta seria desejável uma diversidade de espécies?
Podemos dizer tudo isso, mas a
floresta não é nossa. Não podemos esquecer que a floresta tem que
dar dinheiro aos seus proprietários. Entre o ideal que podemos
imaginar e a floresta que temos que ter, deve haver alguns cuidados
nas exigências a fazer. A realidade é a que existe e é nesta
realidade que temos que trabalhar, melhorando-a. (…) Há outra
questão que me parece importante: o ritmo da floresta não se
compadece com as pressas da nossa sociedade. Um investimento na
floresta hoje vai gerar frutos daqui a alguns anos. Temos que ter
muita paciência nestes trabalhos na floresta e não desanimar quando
surgem situações como as do ano anterior com muitos incêndios, ou
quando surge um problema sanitário de grande
gravidade.