João André é o rosto do projeto
O renascer da Casa Fernandes
A "Casa Fernandes" inicia a sua
atividade nos anos 30, com o seu principal impulsionador "Augusto
Fernandes", um homem com uma visão à frente no seu tempo, que
construiu uma fábrica de resina. Foi um dos maiores empregadores do
concelho de Oleiros. A floresta, com a resina, a agricultura e o
setor imobiliário foram as áreas chave desta Casa que agora está a
ganhar uma nova força. João André é o rosto dessa ambição e
mudança, apostando na produção de azeite e no setor florestal. Mas
a empresa investe ainda na aquisição de terrenos e no setor
imobiliário.
Em entrevista, respondida por email, João André mostra-se
satisfeito com a aposta. Trocou o emprego no Estado pelas rédeas da
empresa e determinação é algo que não lhe falta. Aqui ficam as
perguntas e as respostas.
A produção de azeite tem sido uma das imagens da casa
Fernandes que mais tem chegado à opinião pública. Quais as mais
valias do vosso azeite?
É na produção de azeite que achamos que pode estar a principal
aposta. Primeiro porque tínhamos a base, que são os terrenos para
plantação de novo olival, depois porque temos uma variedade que é a
azeitona galega que foi recentemente reconhecida como uma das
melhores do mundo. E por fim, trabalhamos o azeite ainda de forma
tradicional, ou seja, apostamos na inovação do Lagar na receção e
transporte da azeitona, mas ainda com prensas, e um mestre
lagareiro. Ou seja, tiramos partido de toda a pureza e qualidade da
azeitona, que por decantação permite separar o azeite da água, por
diferença de densidade dando ao azeite um sabor inconfundível e
diferente na minha opinião, daquilo que se produz no mercado.
Temos, no fundo, um azeite puro.
Para além das vossas marcas, o lagar também produz para os
produtores locais?
Sim, para além das nossas marcas, continuamos a realizar a
prestação de serviços aos olivicultores, mas também dinamizando a
economia local, adquirindo azeitona que cumpra os requisitos à
porta do lagar. É uma forma de ajudar o pequeno produtor a escoar o
excesso do seu produto que é cada vez mais para consumo próprio e a
aumentar significativamente a nossa produção, tendo já na última
campanha adquirido cerca de 40 toneladas e prestando serviço a mais
de 200 clientes. Ainda existe na nossa região a cultura, e bem, de
as pessoas irem ao lagar moer a sua azeitona, e nós fazemo-lo
respeitando todas as regras de higiene e segurança alimentar, com a
vantagem de o cliente levar o azeite da sua própria azeitona!
Os incêndios destruíram o vosso lagar, propriedades...
como é que houve coragem para não desistir?
Não foi fácil…Não é fácil para quem tinha já um investimento
considerável e um caminho definido ver tudo esfumar-se num ápice!
Foram destruídos milhares de oliveiras, centenas de hectares, e
ainda a zona de receção do Lagar. O não deitar a toalha ao chão foi
pensar essencialmente na continuação de um sonho, e de não deixar
para as minhas filhas os problemas de um abandono precoce. Foi uma
questão também emocional. Agarrá-mo-nos com todas as nossas forças
e passado uma semana já estávamos a trabalhar na recuperação dos
bens afetados e na renovação do lagar. Tenho 36 anos e consegui
arranjar coragem. O que mais me custava eram as pessoas, que já de
idade avançada me questionavam, onde iriam arranjar forças para
recuperar o que construíram numa vida inteira! Aí, por mais que
quisesse, ficava sem resposta para dar!
Ainda hoje recordo os gritos das populações ao acordarem de dia e
verem o que o fogo precocemente lhes tirou. São marcas que ficam, e
só quem passa por elas sabe do que estou a falar.
O que é que o levou a abandonar o seu emprego no Estado e
a apostar na Casa Fernandes?
O que me levou a abandonar o meu emprego? É uma questão que muita
gente me faz! Tinha um emprego estável, e saí para arriscar num
projeto muito pessoal! Como deve calcular não foi uma decisão fácil
nem unânime na família! Mas eu não podia abandonar a "Casas
Fernandes", e sabia que só uma dedicação a 100% poderia mudar o
rumo e realizar todos os meus objetivos para o caminho projetado.
Quero muito deixar mais do que encontrei, colocar esta empresa no
lugar que eu acho que deve e merece estar, poder um dia, em algum
lado encontrar as pessoas que a lideraram, agradecer, e dizer que
tive sucesso. No fundo é uma questão de amor e paixão por uma
causa, por um sonho! Uma aposta que acreditava e acredito que vai
dar certo!
O facto de estarem no interior do país, obriga-vos a um
esforço redobrado para colocarem os vossos produtos?
Sim, é um facto! A interioridade ainda descrimina a nossa
progressão. Encontrei clientes no litoral que me questionaram se
produzíamos assim no interior! Isso deixa-me triste, mas com uma
vontade de cada vez mais mostrar o que de melhor fazemos. Existem
questões em que a equidade de oportunidades deveria ser igual, mas
não podemos vitimizar-nos. Por vezes somos olhados como os coitados
que moram lá na parvónia e isso não corresponde à verdade! Temos
muita gente com capacidade e conhecimentos, do melhor que se
encontra no país. Temos que nos deslocar e bater às portas para que
essas oportunidades possam surgir e agarrá-las com unhas e dentes.
Estamos fisicamente mais perto, mas temos um trabalho de fundo
ainda a fazer, o que nos obriga a esforços redobrados, expandindo
os nossos horizontes e não colocando limites.
Defende medidas de discriminação
positiva para os territórios e empresas situadas no interior do
país?
O que eu defendo é uma igualdade de oportunidades. Agora, é claro
que os custos de portagens, transportes, impostos e visibilidade
têm um peso completamente diferente para uma empresa do litoral e
outra do interior. Tal como, com a Espanha aqui ao lado,
continuamos sem uma ligação que nos permita chegar mais rápido à
entrada da Europa. Não defendo retirar do litoral para o interior,
defendo uma política de atração de empresas e criação de postos de
trabalho, o emprego é o polo central de tudo o resto. Defendo
também uma união dos municípios do interior. São estes que estão
mais perto da população, conhecem as suas necessidades e que podem,
em conjunto, trabalhar medidas e reivindicar os anos de atraso a
que temos vindo a ser sujeitos por parte do poder central! Sem
emprego, tudo o resto me parece, um pouco, uma utopia
generalizada.
Neste momento qual é a área de terreno que a casa
Fernandes possui no concelho e que é utilizada no setor agrícola e
florestal?
Neste momento a "Casa Fernandes " tem cerca de 30 hectares de
Olival novo totalmente da nossa oliveira galega! Quanto à área
florestal, temos muita área, mas nos últimos dois anos foram
adquiridos cerca de 40 hectares de Pinhal. Continuo a acreditar no
pinho, mas temo a sua extinção face aos incêndios que cada vez mais
nos assolam!
Quais os projetos futuros da Casa
Fernandes?
O principal projeto da "Casas Fernandes" passa por a
internacionalização da marca nos próximos três anos. Queremos
chegar aos quatro cantos do mundo, e posso adiantar que já tivemos
contactos de Angola e Brasil, mas neste momento a nossa produção
ainda não nos permite chegar a esses mercados. A participação em
feiras internacionais está também no nosso horizonte, como em
concursos nacionais, apesar de a opinião dos nossos clientes ser o
que realmente conta para nós. Na floresta, investir no que
consideramos bons negócios que potenciem esta nossa riqueza, e no
imobiliário passa por um investimento maior na zona da grande
Lisboa.
Nós consideramos o nosso potencial humano que são os nossos
trabalhadores como um bem essencial. Sem eles nada era possível.
Queremos criar postos de trabalho e não tenho duvidas que ao ritmo
de crescimento, nos próximos três anos eles vão aumentar.
Temos dois postos de trabalho permanentes, mas chegamos
sazonalmente a empregar 15 pessoas.